Agrupamento de Escolas de Pedrógão Grande

O Pai Natal Existe?

O Pai Natal Existe?
A marca Coca-Cola, nos anos 30, inspirou-se no São Nicolau, que, segundo reza a história, dedicou grande parte da sua vida a ajudar os mais desfavorecidos, e vestiu o personagem de vermelho, utilizando-o como mascote da marca. O Pai Natal é, decerto, uma das estratégias de marketing melhor conseguidas do último século, tendo universalizado a conceção natalícia. Pode-se mesmo conjeturar que nenhuma outra fantasia tenha sido tão difundida, no mundo ocidental.

Eis uma questão, que, decerto, caso tenha filhos, nalgum momento, já ouviu ou ouvirá: “Mãe/Pai, o Pai Natal existe?”

A existência do senhor barbudo, cujo volume da anca ameaça o sucesso da técnica de descer chaminés, é uma das primeiras dúvidas filosóficas para a maioria das crianças… Para os adultos, por seu turno, representa um dilema…

Como responderia à pergunta?

Contar-lhe-ia a verdade ou esperaria que a criança descobrisse por si própria? Deve-se ou não promover esta crença e até quando? Esta crença é uma mentira que poderá pôr em causa a confiança da criança nos pais e que, por outro lado, poderá abrir precedentes, isto é, sendo os pais o modelo, a criança, uma vez constatando a mentira, poderá, também, passar a mentir? Há possibilidade de uma vivência, de algum modo, traumática face à desilusão da descoberta da verdade?

Gostaríamos, assim, de propor uma co-reflexão sobre a forma como se deve lidar com estas dúvidas e perguntas da criança, bem como sobre o lugar que o Pai Natal ocupa na construção do imaginário infantil, uma das mais importantes ferramentas na descoberta do mundo.

A imagem do Pai Natal permeia as representações internas do Natal, da qual é indissociável, pese embora a indignação daqueles que pretenderiam manter o conceito de Natal diretamente associado a Jesus Cristo. A imagem é mais apelativa, visto possuir características que favorecem a sua perceção como uma figura simpática, afável e dócil.
O Pai Natal é um símbolo dos sonhos, uma porta de entrada para um mundo mágico. É uma personagem que preenche e amplia o mundo imaginário e a fantasia infantil, no sentido em que põe em jogo elementos não passíveis de se entrever na realidade externa (e.g., renas aladas, trenó voador, duendes, etc.), assim como por proporcionar a oportunidade de realização de desejos. Vale, ainda, aludir à vertente pedagógica, designadamente o incitamento à avaliação do comportamento tido durante o ano, isto é, à comparação entre a perceção que a criança possui do seu comportamento e a fantasia do que é esperado por parte das figuras parentais. Importa, no entanto, ressalvar que o Pai Natal não deve ser utilizado como instrumento de manipulação.
Nas crianças até aos 2 anos, é frequente uma reação negativa ante a figura do Pai Natal, o que poderá decorrer do facto de ter uma barba grande, que lhe omite a face, e pelo seu aparecimento brusco enquanto se passeia na rua. Ademais, a ideia de que alguém pode entrar em casa pela chaminé pode ser assustadora, pelo que é importante assegurar que tal só acontece com a autorização dos pais e que mais ninguém, em mais nenhum dia, poderá entrar. Com o passar do tempo e a exposição sucessiva à imagem, a figura passa a ser associada a algo positivo.
Deste modo, a “chegada” do Pai Natal passa a ser, comummente, vivida com expectativa e deleite. Segundo Piaget, o estádio pré-operatório caracteriza-se pelo pensamento mágico, pelo que é fácil conseguir que acreditem na sua existência.
O fim da primeira infância é acompanhado pela mudança dos sistemas de representação, etapa esta basilar na constituição das bases da relação consigo próprio e com os outros, mas geradora de perdas e ganhos (desaparece o monstro no armário, mas também a fada, capaz de realizar os desejos). Assim, à medida que o pensamento lógico se instala, começam a questionar as inconsistências no enredo do Pai Natal, o qual, paulatinamente, passa a pertencer mais ao faz de conta do que à realidade (estádio das operações concretas). A entrada na escola, a convivência com os pares, irá, decerto, facilitar que a magia natalícia acabe por sucumbir à realidade de que não existe Pai Natal.
Neste sentido, alguns pais temem o momento em que serão confrontados com a questão: “O Pai Natal existe?”
A resposta não deverá passar pela confirmação ou pela negação ou por explicações complexas e elaboradas a respeito da sua existência ou não, mas pela validação. Sugerimos que devolva a questão e escute: “O que é que tu achas? O que é tu pensas sobre o Pai Natal?”, deixando em aberto todas as possibilidades.
Se a criança, ainda, não sente ser o momento de abrir mão da fantasia, cabe aos adultos respeitar o seu ritmo, o seu tempo, aguardando.
A posse da verdade pode representar para a criança a entrada no “mundo dos adultos”, isto é, amadurecimento e crescimento, o que pode ser reforçado quando a criança tem irmãos ou familiares mais novos, pois passa a partilhar o segredo dos adultos. De resto, o crescimento implica um processo de desencantamento dos objetos que nos rodeiam.
Como expectável, os pais devem procurar desenvolver uma relação sustentada na confiança, que sirva de base a relações futuras. Conquanto, a mentira do Pai Natal é inofensiva e pode, inclusivamente, arrastar consigo benefícios, diferente de quando uma mentira é usada, por parte das figuras parentais, para evitar a assunção da culpa e responsabilidade. Aquando da descoberta que o Pai Natal, afinal, não existe, a mor das crianças não ficará ressentida com os pais por terem alimentado a fantasia, uma vez que já é capaz de diferenciar dois tipos de mentira. É verdade que há crianças que podem ficar desiludidas ante a descoberta da realidade, mas são as práticas diárias que, indubitavelmente, ditam a forma como reagem - a verdade, os valores, a confiança e a segurança são transmitidos e consolidados ao longo do tempo. Se estas bases forem sólidas, não será esta descoberta que porá em causa a integridade emocional da criança. Se questionado sobre isso, poderá frisar que é um mito criado pelos adultos para simbolizar os sonhos e desejos de Natal - a abnegação.
Deste modo, mais do que mostrar à criança a realidade de uma forma objetiva, desmistificando as fantasias de uma forma racional, o papel do adulto passa, mormente, por permitir que descubra os limites da realidade, com segurança.
Os contos de fadas, as fábulas, as lendas, os mitos e o encanto do Pai Natal são promotores do desenvolvimento emocional, intelectual, de um pensamento criativo, da capacidade de compreensão científica, da consciência social, da empatia e de habilidades de resolução de problemas. Estudos recentes patenteiam que um maior envolvimento em jogos de fantasia e imaginação influi na capacidade de distinguir a fantasia da realidade, de perceber as expectativas dos outros, de perceber que as perceções de cada um dependem do contexto, de compreender as emoções e de criar cenários hipotéticos, que reforçam o raciocínio. Tal acaba por ter repercussões na vida adulta, traduzindo-se numa maior facilidade em pensar soluções, gerar ideias e prever possíveis acontecimentos.
Permitir que a criança acredite que existe um velhinho simpático com barbas brancas, óculos na ponta do nariz, fato vermelho, gorro da mesma cor com um pompom branco e uma barriga saliente, que passeia pelo céu, sentado num trenó puxado a renas e com um saco repleto de presentes, que distribui por todas as crianças do mundo, não olvidando o seu, e que se faz anunciar com um sino estridente, que soa pela sua casa, bem como por todas as casas vizinhas, é oferecer-lhe possibilidades para sonhar e fantasiar e consentir que tenha o prazer de descobrir a sua própria realidade.
Que o espírito natalício resgate os tesouros que os pais escondem, todos os dias, dentro de si e a capacidade para se reinventarem. Que a família se reorganize em torno do compromisso “ensinar a sonhar”, vibrando e participando neste conto infantil, envolvendo as crianças em torno dos preparativos e reinventando o Natal. Que a fantasia se mantenha a alimentar a imaginação e a capacidade criadora de todas as crianças.

Ana Jacinto
Psicóloga dos SPO do AEPG

SERVIÇOS DE PSICOLOGIA E ORIENTAÇÃO (SPO)

O que são os Serviços de Psicologia e Orientação (SPOs)?
São “unidades especializadas de apoio educativo, integradas na rede escolar, que desenvolvem a sua ação nos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário” que foram criadas pelo Governo Português, através do Decreto-Lei nº 190/191 de 17 de Maio de 1991, a fim de modernizar e melhorar a qualidade da Educação.
Os SPO constituem-se como um serviço fundamental no suporte para uma escola inclusiva e de qualidade onde todos e cada um dos alunos encontrem respostas para a realização máxima do seu potencial. Assim, constituem-se como uma resposta integrada num modelo multinível de organização das medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão, que garanta a existência de um contínuo de respostas à diversidade de necessidades de todos os alunos.
Os principais domínios de intervenção dos SPO são: apoio psicológico e psicopedagógico individualizado; intervenção com grupos de estudantes para promoção de competências; apoio ao desenvolvimento do sistema de relações da comunidade educativa; consultoria psicológica promovendo ligação e integração entre os diferentes intervenientes no processo educativo dos alunos; orientação escolar e profissional, etc.

Como funciona o SPO do Agrupamento?
Os SPO desenvolvem o seu trabalho com base em atribuições e competências legais, visando responder às necessidades específicas da comunidade escolar e orientando-se pela planificação que integra o Plano Anual de Atividades do Agrupamento. A ação dos SPO destina-se a alunos, professores, educadores de infância, funcionários, pais e encarregados de educação, ou outros profissionais que trabalhem em parceria com a escola.
A intervenção pode ser desencadeada por dois mecanismos:
- sinalização por parte de algum elemento da comunidade educativa,
- avaliação de necessidades detetadas pela psicóloga.
Assumindo uma perspetiva preventiva e não remediativa dos problemas, os SPO auscultarão os diferentes agentes da comunidade educativa, analisando as necessidades prementes, numa atitude proativa, de forma a fomentar novas ideias, sugestões e iniciativas de promoção de competências e de alteração de comportamentos.
Este serviço dispõe de um espaço de atendimento, localizado na Escola EB 2/3 Miguel Leitão de Andrada, próximo da biblioteca e devidamente identificado, funcionando de 2.ª a 6.ª feira das 9h às 17h.

Como recorrer aos SPO?

Alunos, professores, educadores de infância, funcionários, pais e encarregados de educação, ou outros profissionais que trabalhem em parceria com a escola podem recorrer aos SPO:

- através do(a) Diretor(a) de Turma;
- através de contacto telefónico (916164504);
- através do e-mail (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.).

Nota: encontra-se disponível a ficha de sinalização para pedido de intervenção do SPO para atendimento individual, devendo o documento original ser entregue na secretaria do Agrupamento.

A psicóloga do Agrupamento,
Ana Luísa Silva